#48 - Seu SaaS Está em Perigo? Entenda os 8 Níveis de Risco de Plataforma
Descubra em qual nível você está e por que o nível 5 pegou milhares de empreendedores de surpresa.
Bem-vindo à edição #48 da "Jornada SaaS"! 👋
"O Google mudou o algoritmo de novo. Lá se vai nosso tráfego..."
"A AppStore rejeitou a gente pela quinta vez. Já não sei o que mudar!"
"A plataforma que usamos pra fazer nosso app dobrou os preços…"
Se você já ouviu (ou, pior, pronunciou) alguma dessas frases, sabe exatamente o que é o risco de plataforma: aquela sensação incômoda de que seu negócio foi construído em terreno alugado.
Recentemente, saiu um episódio do podcast "Startups for the Rest of Us" onde Rob Walling (um dos mentores que, como já mencionei em outras edições, me inspirou a sair da "geladeira" do empreendedorismo após a venda da Orbit) abordou esse tema de forma muito bem estruturada.
O assunto ganhou ainda mais relevância após o recente "imbróglio" entre WordPress e WP Engine. Foi um lembrete incômodo de que até as plataformas que consideramos estáveis podem se tornar problemáticas de um dia para o outro.
Então, bora mergulhar nesse framework que pode salvar seu SaaS de ameaças existenciais…
Dica rápida: Depois de 8 anos usando DigitalOcean (inclusive na Orbit), consegui um código promocional especial para os leitores da Jornada SaaS: $200 em créditos para novos usuários, válidos por 60 dias. Perfeito para validar seu MVP sem gastar com servidores!
Os 3 Fatores que Definem o Risco de Plataforma
Antes de explorarmos os níveis de risco, precisamos entender os três fatores principais que contribuem para o risco de plataforma:
1. Disponibilidade de Substituição
A questão central aqui é: existe uma alternativa viável para a plataforma que você utiliza? E, caso exista:
Quão difícil é fazer a migração?
O preço é comparável?
Quanto mais difícil a substituição, maior o risco.
2. Concentração de Clientes
Este fator responde à pergunta: qual percentual dos seus clientes depende desta plataforma?
Se 80% dos seus clientes estão concentrados em uma única plataforma e, de repente, seu acesso é revogado ou as regras mudam drasticamente, o impacto no seu negócio pode ser devastador.
3. Fluxo de Novos Clientes
Diferente da concentração de clientes existentes, este fator avalia: qual percentual dos seus novos clientes vem diretamente da plataforma?
Por exemplo, você pode ter uma base diversificada de clientes, mas se 90% dos novos leads chegam através do marketplace de uma única plataforma, você ainda tem um risco significativo.
Os 8 Níveis de Risco de Plataforma
Agora que entendemos os fatores contribuintes, vamos examinar os oito níveis de risco de plataforma, do menor ao maior:
Nível 1: Risco Quase Inexistente
Este é o cenário utópico onde você:
Possui seus próprios servidores em um datacenter com energia redundante
Executa seus próprios servidores SMTP para envio de emails
Não depende de nenhum serviço externo significativo
Riscos? Apenas a linguagem de programação escolhida e o provedor de internet. É praticamente inalcançável para a maioria dos negócios SaaS, mas serve como referência teórica.
Nível 2: Serviços de Fácil Substituição
Aqui, você depende de:
Provedores de email como SendGrid ou Mailgun
Serviços de SMS como Twilio
Hospedagem básica de VPS ou Docker
Estes serviços são commodities — se um falhar, há dezenas de alternativas viáveis. A migração pode ser trabalhosa, mas geralmente é questão de dias ou semanas, não meses. Os preços são relativamente padronizados no mercado.
Nível 3: Grandes Provedores de Nuvem
Neste nível, você depende de:
AWS, Google Cloud ou Azure
Múltiplos serviços interconectados dentro dessas plataformas
A migração se torna significativamente mais complexa, especialmente se você utiliza vários serviços proprietários do provedor. A boa notícia? Esses gigantes raramente mudam radicalmente seus modelos de negócio, já que sua proposta de valor é exatamente a previsibilidade.
Nível 4: Software de Código Aberto
Aqui, seu negócio é construído sobre:
WordPress, Drupal ou outras CMSs de código aberto
Frameworks open source como Django, Laravel, etc.
O recente conflito entre o WordPress e WP Engine demonstra que até software de código aberto pode representar um risco significativo. O caso, que começou em setembro de 2024, escalou rapidamente: Matt Mullenweg (cofundador do WordPress) acusou a WP Engine de não contribuir adequadamente para o projeto open source e usar indevidamente a marca "WP". Em resposta, a WP Engine processou Mullenweg por "extorsão e interferência nos negócios".
A situação atingiu um ponto crítico quando a Automattic (empresa por trás do WordPress.com) suspendeu o acesso da WP Engine aos recursos do WordPress.org, afetando atualizações de plugins e temas para milhares de sites. Embora uma liminar judicial tenha posteriormente obrigado a restauração do acesso, o dano já estava feito — a WP Engine precisou alterar sua identidade e remover referências diretas ao WordPress em seus serviços. Milhares de empresas que construíram negócios sobre essa infraestrutura ficaram temporariamente no limbo, sem saber se precisariam migrar às pressas para outra plataforma.
Nível 5: Plataformas No-Code
Seu produto é construído sobre:
Bubble, Airtable, Webflow ou similares
Sistemas proprietários onde você não acessa o código-fonte
O risco aqui é maior porque:
Não há "exportação" do código para outra plataforma
A migração geralmente significa reconstruir do zero
Muitas dessas empresas ainda não são lucrativas e dependem de rodadas contínuas de investimento
O caso do Bubble é particularmente interessante. Há poucos meses, eles fizeram um aumento de preço significativo que pegou muitos empreendedores de surpresa. Alguns negócios viram seus custos mensais saltarem 2-5x da noite para o dia. Sem acesso ao código-fonte e com toda a lógica de negócio "aprisionada" na plataforma, muitos se viram sem alternativas viáveis a não ser absorver o aumento.
É o paradoxo do no-code: por mais que estas ferramentas democratizem o empreendedorismo digital e reduzam drasticamente o tempo de lançamento, quem escolhe esse caminho está, desde o primeiro dia, assumindo um dos níveis mais elevados de risco de plataforma. É uma troca que pode fazer sentido, mas que deve ser feita conscientemente.
Nível 6: Dependência de Canal Único de Marketing
Neste nível, o risco não é técnico, mas de aquisição:
100% dos seus leads vêm de SEO no Google
Toda sua estratégia depende de um único canal de anúncios
Se o algoritmo mudar (e ele sempre muda), você não tem um "plano B" viável. Já vimos negócios milionários desaparecerem das buscas da noite para o dia após atualizações do Google.
Nível 7: Ecossistemas de Aplicativos "Amigáveis"
Seu produto é um aplicativo dentro de:
Heroku, Salesforce App Exchange, HubSpot App Marketplace, etc.
Plataformas que historicamente têm sido "amigáveis" aos desenvolvedores
O grande risco aqui é que uma plataforma "amigável" pode mudar de postura a qualquer momento — especialmente após aquisições por empresas maiores ou entradas no mercado de capitais.
Esses exemplos que o Rob mencionou não são tão aplicáveis aqui no Brasil. Mas podemos substituir por outros ecossistemas, como o dos infoprodutos, plataformas brasileiras de e-commerce, etc.
Nível 8: Plataformas Agressivas
Este é o maior nível de risco, onde seu negócio depende de:
Shopify, Twitter/X, Facebook, ou outras plataformas conhecidas por mudanças drásticas
Ecossistemas onde você tem 100% de concentração de clientes
Plataformas que fornecem 100% do seu fluxo de leads
A história está repleta de exemplos de negócios dizimados quando essas plataformas mudaram as regras: Cart Hook vs Shopify, Zynga vs Facebook, inúmeros clientes do Twitter após a aquisição por Elon Musk.
A Falácia do "Todo Mundo Tem Risco de Plataforma"
Um argumento comum quando se discute risco de plataforma é: "Bem, todo negócio digital depende de alguma plataforma, então todos estamos expostos."
Esta equivalência falsa ignora as diferenças críticas nos níveis de risco. Sim, usar SendGrid (Nível 2) e construir um app no ecossistema do Shopify (Nível 8) são ambos "riscos de plataforma" — mas não são nem remotamente comparáveis em termos de ameaça existencial para seu negócio.
O framework de Rob nos ajuda a avaliar com mais precisão onde nossos maiores riscos estão e agir de acordo.
Como Usar Este Framework
Avalie seu negócio: Em qual nível (ou níveis) do risco de plataforma seu SaaS se encontra?
Considere a diversificação: Para riscos nos níveis 6-8, existem planos de contingência ou estratégias de diversificação que você poderia implementar?
Tome decisões estratégicas bem informadas: Ao lançar novos produtos ou expandir existentes, considere o risco de plataforma como fator decisivo.
Evitar completamente o risco de plataforma é praticamente impossível. A questão não é se você deve assumir riscos, mas quais riscos fazem sentido para seu modelo de negócio e como mitigá-los.
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"Semanário" de bordo
Para ser sincero, tem sido particularmente complicado dedicar tempo para os meus projetos SaaS, por diversos motivos.
O principal é que estou no meio de uma mudança. Logo vou voltar para Santa Catarina, e quem já passou por uma mudança sabe quanto tempo e energia isso consome. São caixas, burocracias, decisões sobre o que levar e o que deixar, e toda aquela logística que parece nunca acabar.
É por isso, inclusive, que tenho escrito mais edições apoiadas em conteúdos externos (como hoje com o podcast do Rob, e semana passada com o livro sobre PLG) do que contando histórias ou indo mais fundo em temas de experiência própria.
Indicação da Semana
📺 Série: The Outsider (Max) [link aqui]
Baseada no livro de Stephen King, "The Outsider" é uma série que mistura investigação criminal com elementos sobrenaturais. A trama começa com um crime aparentemente simples, com provas irrefutáveis contra um suspeito. No entanto, conforme a investigação avança, surgem evidências igualmente irrefutáveis de que o suspeito não poderia ter cometido o crime. A série se desenvolve em um ritmo constante, abordando o conflito entre o racional e o inexplicável. Recomendo!
Obrigado por ler até aqui!
Espero que esse conteúdo tenha gerado valor pra você (e que você não esteja se arriscando mais do que precisa) :)
Nos vemos na próxima edição da “Jornada SaaS”!
Abraço,
Ronaldo Scotti
Eu estava refletindo sobre essas questão mês passado. Migrei da AWS para a hostinger por alguns motivos:
1- O custo varia conforme o dolar
2- Mesmos meu SaaS tenho um baixíssimo consumo de hardware, o custo "AWS" era alto.
3- Trocar de VPS é mais 'simples' que trocar de cloud.