Bem-vindo à edição #28 da "Jornada SaaS"! 👋
Você já teve aquele momento? Está ali, scrollando tranquilamente seu feed depois de um dia difícil tentando resolver um bug ou otimizar uma campanha que não está indo bem, quando ele aparece: mais um post de alguém comemorando números impressionantes.
"Conseguimos 100 novos usuários essa semana!" "Atingimos R$1 milhão de valuation!" "Do zero a R$ 100 mil mensais em 6 meses!"
O coração aperta um pouquinho. Aquela sensação de que todo mundo está decolando, menos você. Seu produto, que você construiu com tanto carinho e dedicação, parece pequeno demais. Seus números, que até ontem te deixavam orgulhoso, de repente parecem insignificantes.
Sei exatamente como é. Passei por isso diversas vezes. E até hoje me pego constantemente comparando meus resultados com outros que vejo por aí. A sensação é de estar sempre alguns passos atrás, como se houvesse um segredo do sucesso que todos conhecem, menos eu.
Mas há algo crucial que precisamos entender sobre essas comparações: elas raramente são justas ou realistas. Nossa percepção de sucesso é profundamente moldada por recortes cuidadosamente selecionados da realidade alheia. É como comparar os bastidores da nossa vida com o palco da vida dos outros — uma comparação inerentemente injusta.
Sabe aquela história do iceberg, onde só vemos a ponta? Essa metáfora nunca foi tão verdadeira. Para cada post celebrando um grande marco, existem centenas de tentativas, erros, mudanças de direção e noites mal dormidas que ficaram de fora da foto. Para cada "sucesso da noite para o dia" que vemos, existem anos de preparação e aprendizado que não aparecem nos stories.
E é sobre isso que vamos conversar hoje: como nossas comparações nem sempre justas podem distorcer nossa percepção de sucesso e, mais importante, como podemos desenvolver uma visão mais saudável e realista do nosso próprio progresso.
Pronto para uma conversa franca sobre esse tema que afeta tantos de nós? Vamos lá.
A Ilusão do Sucesso Instantâneo
Você já reparou como o nosso cérebro é viciado em histórias extraordinárias? Todo mundo já ouviu falar daquele fundador que largou o emprego e em seis meses construiu um SaaS milionário. Da startup que saiu do papel e conquistou mil clientes no primeiro mês. São histórias que nos fazem sonhar — e, muitas vezes, nos fazem duvidar da nossa própria capacidade.
Isso acontece por conta do viés de sobrevivência: só vemos as histórias que "deram certo". É como se estivéssemos assistindo aos melhores momentos da partida, enquanto a realidade inclui horas de jogo e de preparação que ninguém mostra. Para cada caso de sucesso meteórico que chega até nós, existem centenas de empresas sólidas crescendo no seu próprio ritmo, fora dos holofotes.
E quando misturamos isso com a cultura do build in public, a situação fica ainda mais complexa. Não me entenda mal — transparência é fundamental, e eu mesmo pratico isso aqui na newsletter. Mas existe uma diferença crucial entre transparência e curadoria seletiva de sucessos.
Vou dar um exemplo pessoal: quando vendemos a Orbit Pages, muita gente viu apenas o momento final “glorioso”. O que ficou nos bastidores? Os 6 meses construindo o Orbit Learn que não decolou. Os 18 meses dedicados a construção de uma nova versão que nunca foi pro ar. As noites sem dormir corrigindo problemas. As várias funcionalidades que desenvolvemos e ninguém usou. As campanhas que não convertiam. Os momentos de dúvida sobre estarmos ou não no caminho certo.
Esse é o verdadeiro "por trás das câmeras" que raramente aparece nos posts motivacionais do LinkedIn ou nos reels do Instagram.
Corrida vs Maratona: Escolhendo Seu Ritmo
Existe uma analogia que funciona bem: construir um SaaS é como planejar uma viagem. Alguns escolhem fazer um mochilão intenso de meses, outros preferem ficar uma semana, tirar fotos bonitas e voltar pra casa. Ambas são jornadas válidas, mas exigem preparações e mentalidades completamente diferentes.
No mundo SaaS, temos produtos que são naturalmente corridas:
Precisam de crescimento explosivo para validar o modelo
Dependem de capital externo para escalar rapidamente
Focam em dominar o mercado antes da concorrência
Geralmente têm equipes grandes desde o início
E temos produtos que são maratonas:
Crescem de forma orgânica e sustentável
Reinvestem o próprio lucro
Constroem relacionamentos profundos com cada cliente
Começam pequenos e escalam gradualmente
O problema não está em escolher um ou outro caminho — o problema está em tentar correr uma maratona como se fosse uma corrida, ou vice-versa. É aqui que muitos fundadores se perdem.
Em todos meus novos projetos, por exemplo, estou fazendo uma escolha consciente pelo modelo maratona. Em vez de buscar crescimento a qualquer custo, quero construir uma base sólida primeiro. Isso significa dizer não para algumas oportunidades que parecem tentadoras no curto prazo, mas que poderiam comprometer essa visão no longo prazo.
Celebrando Cada Passo
Cada pequena melhoria, cada problema resolvido, cada cliente satisfeito é um tijolo na construção do seu sucesso sustentável. São essas pequenas vitórias acumuladas que, um dia, se transformam naquelas histórias de "sucesso da noite para o dia" que tanto admiramos.
E sabe qual é a parte mais interessante? Quando você aprende a celebrar seu próprio progresso, as comparações externas começam a perder força. Você desenvolve um mapa interno mais preciso, que te ajuda a navegar com mais confiança pelo seu próprio caminho.
Não existe atalho para o sucesso sustentável. O que existe é persistência, aprendizado constante e a sabedoria de entender que cada negócio tem seu próprio ritmo de crescimento.
Como já dizia aquele velho ditado: a grama do vizinho sempre parece mais verde. O problema é que raramente vemos quanto tempo ele passa regando o gramado.
Navegando as Comparações com Sabedoria
Se você está lendo esta newsletter, provavelmente já sabe que é impossível (e nem desejável) ignorar completamente o que acontece no mercado. A questão não é deixar de fazer comparações — é aprender a usá-las de forma construtiva, transformando-as de fonte de ansiedade em ferramenta de crescimento.
Existe uma vulnerabilidade que raramente admitimos publicamente no mundo do empreendedorismo: aquela pontada no peito quando vemos alguém celebrando uma conquista que ainda parece tão distante para nós. Não é inveja — é algo mais complexo, uma mistura de admiração com autocrítica, de inspiração com dúvida.
Me pego frequentemente refletindo sobre isso. Cada vez que abro o LinkedIn ou o Instagram, sou bombardeado por histórias de sucesso que parecem maiores e mais impressionantes que as minhas. E mesmo sabendo, racionalmente, que são apenas recortes cuidadosamente selecionados da realidade de outras pessoas, ainda é difícil não se deixar afetar.
É curioso como nossa mente funciona. Podemos estar progredindo consistentemente, construindo algo sólido e valioso, mas basta uma história de crescimento explosivo passar pelo nosso feed para questionar todo nosso caminho. É como se existisse uma voz interior sempre perguntando: "Será que estou fazendo algo errado? Será que sou uma fraude?"
O Peso das Comparações
A verdade é que comparações são inevitáveis. Fazem parte da natureza humana, e até certo ponto, podem ser úteis. O problema não está em observar o sucesso alheio — está em permitir que essas observações distorçam nossa própria jornada.
Quando vendemos a Orbit, muita gente quis saber detalhes, números, métricas. É natural. Mas o que realmente importava — as noites em claro, as decisões difíceis, os momentos de dúvida, os pequenos avanços que nos mantiveram motivados — raramente entrava na conversa. É como se existisse um roteiro não escrito de como uma história de sucesso deve ser contada, deixando de fora justamente as partes mais humanas e reais.
Com o tempo, aprendi que a comparação mais valiosa é aquela que fazemos com nós mesmos — não com uma versão idealizada do que deveríamos ser, mas com quem éramos ontem, na semana passada, no mês passado.
É um processo íntimo e profundamente pessoal. Envolve aceitar que seu caminho não precisa (e provavelmente não vai) se parecer com o de mais ninguém. Que suas vitórias, por menores que pareçam em comparação com as manchetes do dia, são suas e têm valor próprio.
Isso não significa ignorar o mundo lá fora. Significa desenvolver uma relação mais madura com ele. É possível admirar o sucesso alheio sem diminuir suas próprias conquistas. É possível aprender com outros sem tentar copiar exatamente seus passos.
Um Convite à Autenticidade
Talvez o maior desafio não seja navegar as comparações em si, mas manter-se fiel à sua própria visão em um mundo que constantemente tenta nos empurrar para padrões pré-estabelecidos de sucesso.
Não é fácil. Às vezes, significa crescer mais devagar do que poderíamos. Significa dizer não para atalhos tentadores. Significa aceitar que alguns não entenderão suas escolhas. Mas também significa dormir em paz, sabendo que cada passo, mesmo que pequeno, está alinhado com seus valores.
No final das contas, talvez a verdadeira sabedoria esteja em entender que sucesso não é uma corrida com os outros — é uma jornada consigo mesmo. Uma jornada que vale a pena ser vivida em seus próprios termos, no seu próprio tempo, com suas próprias medidas de progresso.
E se tem algo que aprendi nessa jornada é que as histórias mais inspiradoras nem sempre são as mais barulhentas, mas sim aquelas construídas com autenticidade, propósito e respeito pelo próprio caminho.
Um Momento para Reflexão
Chegamos ao fim desta edição com um convite: pare por um momento. Olhe para trás e observe o caminho que você já percorreu.
Sabe aquele primeiro commit que você fez no repositório do seu projeto? Aquela primeira linha de código que iniciou tudo? Ou talvez aquela primeira anotação rabiscada num caderno, aquela ideia que não te deixava dormir? Esse foi o início da sua jornada. Uma jornada que, por mais desafiadora que seja, é sua. Única. Autêntica.
Quantos obstáculos você já superou desde então? Quantas vezes pensou em desistir, mas encontrou forças para continuar? Quantas pequenas vitórias aconteceram ao longo do caminho que, na correria do dia a dia, talvez você nem tenha celebrado apropriadamente?
Sua jornada não precisa ser igual à de ninguém. Não precisa seguir o roteiro que os outros esperam. Não precisa caber num post de LinkedIn ou num TikTok. Ela é maior que isso, mais profunda, mais real.
Talvez seu produto ainda não tenha milhares de usuários. Talvez você ainda esteja lutando para conseguir seu primeiro cliente pagante. Talvez os números não sejam aqueles que você sonhou no início. Mas você está aqui. Está construindo. Está aprendendo. Está crescendo.
E sabe o que é mais importante? Você está criando algo real. Algo que resolve problemas reais de pessoas reais. Não é apenas mais um produto no mercado — é a manifestação da sua visão, do seu entendimento único sobre como as coisas podem ser melhores.
O caminho do empreendedorismo é longo. Às vezes solitário. Frequentemente desafiador. Mas é também incrivelmente gratificante quando abraçamos nossa própria jornada, com suas peculiaridades e seu próprio ritmo.
Então, da próxima vez que a dúvida bater — e ela vai bater, sempre bate — pense nisso: sua história está sendo escrita agora, nas pequenas decisões diárias, nas batalhas que ninguém vê, na persistência silenciosa de continuar construindo, mesmo quando parece que ninguém está olhando.
Continue. Não porque os outros esperam isso de você, mas porque você tem algo único para oferecer ao mundo. Continue porque cada pequeno passo, cada problema resolvido, cada cliente satisfeito é uma vitória que vale a pena celebrar.
O verdadeiro progresso não é ser melhor que os outros — é ser melhor que você mesmo era ontem. Continue construindo, continue aprendendo, continue crescendo. No seu tempo, do seu jeito.
Sua jornada é sua. E isso já é foda pra caralho.
Não se esqueça: conhecimento é poder, mas conhecimento compartilhado é poder multiplicado. Se você achou esses insights valiosos, provavelmente conhece outros empreendedores e profissionais do mercado SaaS que também se beneficiariam deles. Que tal encaminhar esta newsletter para eles? Afinal, no ecossistema SaaS, quanto mais todos crescemos juntos, mais oportunidades surgem para todos nós.
“Semanário” de bordo
Essa semana foi de avanços silenciosos, daqueles que não aparecem muito por fora mas que fazem toda diferença. Estou finalizando os últimos ajustes no meu novo projeto — um mini-CRM voltado para profissionais de saúde e estética. A ideia é ajudar esses profissionais a venderem mais, usando inteligência artificial para gerar ideias e campanhas de marketing personalizadas para o nicho deles.
Se tudo correr como planejado, nos próximos dias devo liberar o acesso para os primeiros usuários beta. Estou ansioso para ver como eles vão receber o produto e, principalmente, para coletar os primeiros feedbacks reais.
Também estou me preparando para iniciar outro projeto na próxima semana. Ainda está em fase bem inicial, então prefiro não entrar em detalhes agora, mas prometo trazer novidades assim que tiver algo mais concreto para compartilhar.
Aos poucos, as peças vão se encaixando e os projetos tomando forma. É aquela sensação boa de ver as coisas acontecendo, mesmo que ainda nos bastidores.
Indicações da Semana
📺 Série: Silicon Valley - Max [link aqui]
Silicon Valley retrata de forma brilhante e cômica os altos e baixos de uma startup. A série acompanha Richard Hendricks e sua equipe tentando construir uma empresa de sucesso no competitivo Vale do Silício. Entre momentos engraçados, vemos representados vários temas que discutimos hoje: a pressão por crescimento rápido, a comparação constante com concorrentes, as dificuldades de manter-se fiel à própria visão e os bastidores quase nunca glamurosos do empreendedorismo…
📚 Livro: Los Angeles - Cidade Proibida - James Ellroy [link aqui]
É um noir ambientado na Los Angeles dos anos 50, que mergulha fundo na corrupção do departamento de polícia da cidade. A trama acompanha três policiais muito diferentes entre si investigando uma série de assassinatos. O livro é denso e complexo, com reviravoltas que mantêm você tentando juntar as peças até o final, daqueles que faz querer não parar de ler! Para quem preferir, existe uma versão em filme disponível no Disney+, estrelada por Russell Crowe e Kevin Spacey, que adapta bem a atmosfera do livro.
Obrigado por ler até aqui!
Espero que esse conteúdo tenha mudado seu ponto de vista :)
Nos vemos na próxima edição da “Jornada SaaS”!
Abraço,
Ronaldo Scotti